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03 julho 2019

Madeira 2019 - Parte II - As Freiras e o Gregório

28/05/2019 - As Freiras e o Gregório

Terça-feira. primeiro dia a sério.

Achámos que nas manhãs a seguir às pelágicas iríamos estar cansados e resolvemos ir ao Ribeiro Frio, para ver o pombo-da-Madeira, e despachar essa encomenda. Lá chegados,  não se via um palmo à frente do nariz. Maldito nevoeiro. Estrelinhas e tentilhões vimos muitos agora, pombo, é que nada.

Voltámos para o hotel com o rabo entre as pernas. Às 15h30 tínhamos a pelágica e isso é que era importante.

Freira-da-Madeira (Pterodroma Madeira)
Foto Luís Rodrigues

Antes de almoço, acabei por me cruzar com as senhoras que arrumam os quartos e trocámos uns dedos de conversa. Referi que voltava tarde e que ia tentar ver umas aves, as freiras. Disseram que já tinham ouvido falar e quiseram saber onde se viam. 
   -No mar, longe da costa. - respondi - Mas é difícil!
   -Ah, o senhor vai ter sorte! Vai ver de certeza! 

Caminho para o miradouro dos Balcões, com o nevoeiro ao fundo
Chegámos ao porto de Machico mais que a tempo. Fomos conhecendo os companheiros do barco, que iam chegando a pouco e pouco. Era fácil identificá-los, com binóculos e impermeável. Três Ingleses, dois Suíços e um Australiano. Diversidade não nos faltava.

Mais minuto, menos minuto, o “Oceanodroma” lá fez a sua aparição, com a Catarina e o Hugo a bordo. Cumprimentos, briefing de segurança e ala, que se faz tarde. Não havia tempo a perder.

Freira-do-Bugio (Pterodroma deserta)
Nesse dia fomos para a parte norte da ilha, a cerca de 12 milhas náuticas (mn). Objetivo: freiras. 

Passámos a Ponta de S. Lourenço e deu logo para perceber que o mar não estava fácil. Ondas de NE de 2 metros e ventos de 13 nós. Quando parámos para engodar, o barco parecia uma rolha numa tina de água agitada.  Um de nós - não vou mencionar nomes - estava já meio KO e começou rapidamente a deitar engodo extra borda fora. 

As freiras é que não se fizeram rogadas. Apareceu quase de imediato a primeira freira-do-Bugio e uns minutos depois a primeira freira-da-Madeira. Identificadas no campo e mais tarde com ajuda fotográfica. Distinguir estes dois bichos nunca é fácil e a Catarina e o Hugo são uma ajuda preciosa.

Freira-da-Madeira (Pterodroma Madeira)
Foto Luís Rodrigues

Uma hora depois de pararmos para engodar, comecei a achar que já me tinha sentido melhor. Mais meia hora e foi impossível não chamar o Gregório. Em 22 pelágicas anteriores nunca me tinha acontecido mas, à 23ª foi de vez. Naquelas três horas de engodagem aconteceu três vezes. Nem o doping - vomidrine - me valeu. Há dias assim. Pelo menos depois de deitar a carga fora ficava bem durante quase uma hora. Nesses momentos mais difíceis, debruçado no barco, ainda lancei um “No pictures please!” ao pessoal. Se ainda tinha sentido de humor, era sinal de que não estava assim tão mal.

Freira-da-Madeira (Pterodroma Madeira)
No final da pelágica, era mais ou menos consensual que tínhamos visto três da freiras-da-Madeira e três do freiras-do-Bugio. Para compor o dia apareceram as omnipresentes cagarras e almas-negras e vimos também alma-de-mestre e fura-bucho-do-Atlântico, entre outras espécies. 
  Dois dos três objetivos da viagem atingidos na primeira pelágica. Nada mau, para começo de festa. 

Alma-de-mestre (Hydrobates pelagicus)
Foto Luís Rodrigues
O regresso, ao pôr-do-sol, foi longo mas não foi muito agitado. Sobretudo tive frio, agravado pelo vento e andamento do barco. Chegámos ao porto já depois das 22h30, o que se repetiria nas duas saídas seguintes. 
No hotel, o jantar que encomendámos, com uma ou duas cervejas a acompanhar, consolaram-nos. Ficámos quase como novos. 

Tentilhão (Fringila coelebs madeirensis)
Foto Luís Rodrigues

Quando dissemos aos colegas Suíços que tínhamos pedido o favor de nos darem jantar quase às 23h, a pergunta deles saiu de imediato: 
   -Mas isso é possível?
De certeza que, na Suíça, não se consegue jantar em lado nenhum depois das 19h.

#canaldoxofred

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