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01 agosto 2019

Madeira 2019 - Parte VI - O Lobo Desaparecido

01/06/2019 - O Lobo desaparecido e a despedida

Sábado, último dia da viagem. Domingo, de madrugada, tínhamos regresso marcado.

Ao pequeno almoço, os meus companheiros estavam mais frescos do que esperava, para quem se deitou quase às duas da manhã. Fizemos os planos da pólvora para o dia. Havia a possibilidade de tentar o lobo-marinho à tarde, mas ainda faltava acertar uns detalhes. A manhã estava disponível. 

Calca-mar (Pelagodroma marina)
Claramente a estrela da expedição

Combinámos ir dar umas voltas a uma serra perto, para ver mais umas aves para a lista da Madeira. Coisas importantes, tipo verdilhão e lugre. Às vezes ponho-me a pensar de onde vem esta febre das listas, de que também sofro. 
Também os convenci a ir ao Curral das Freiras, que é um dos meus locais preferidos da ilha, e que eles não conheciam. Aí vimos poucas aves, mas a vista vale por mil. 

Curral das Freiras
Regressámos a Machico para almoçar num restaurante que me tinham recomendado meses antes, o Maré Alta. Vista espetacular já se sabia que tinha, só faltava saber que tal era a comida. Filete de espada com banana e maracujá. Mais Madeirense era impossível. Estava realmente muito bom mas, foi comido meio às pressas. Isto de combinar saídas de barco a meio do almoço é no que dá. Aliás, todo o episódio da marcação do barco foi cómico. Estava a empregada a recolher o pedido, e eu ao telefone com o skipper:
-O barco sai às 14h30? Não sei se conseguimos chegar a tempo, estamos agora a começar a almoçar no Maré Alta.
-Então diga ao Sr. João que o André, aqui do barco da Quinta do Lorde, pede para ele vos despachar rápido!
-Quem é o Sr. João? - perguntei.
-É o dono! - disse a empregada.
O mundo é pequeno mas, na Madeira ou, neste caso, em Machico, parece ainda mais pequeno... 

À procura do Lobo-marinho na Ponta de S. Lourenço
Corremos para a Quinta do Lorde onde chegámos, como dizem os ingleses, almost late - quase atrasados - e conhecemos a tripulação. “Temos visto o lobo praticamente todos os dias”. Aquela teoria que odeio do “Eles estão sempre lá!”
Um mergulhador local que estava na zona, disse tê-lo visto, já nesse dia. Esperámos dez minutos em alguns pontos estratégicos, para ver se o bicho vinha à superfície respirar, demos uma volta de quase duas horas pela Ponta de São Lourenço mas, nada feito. Mesmo com o esforço extra que todos fizemos, o lobo-marinho não quis aparecer. 
Paciência... Pelos vistos, a sorte já se tinha esgotado nas pelágicas. Os bichos fazem sempre o que bem lhes apetece.

Alma-negra (bulweria bulwerii)
Foram uma companhia constante nas pelágicas
Não valia a pena desmoralizar e, para acabar em beleza, não nos poupámos a mais uma ida ao Caniçal, para umas lapas e bolo do caco. O mar à vista, com o característico azul profundo. As gaivinas a entrar e sair do porto. Há coisas piores…

O dia não acabou sem aprender mais qualquer coisa. De regresso a Machico, sem fome para jantar, optámos por dar uma volta pela marginal. Havia lá uma barraca de farturas que já tinha debaixo de olho há uns dias. “Farturas!!!!” 

Lá chegados, li o preçário e farturas não constava. Havia churros, churros com recheio e mais uma série de coisas mas, nada de farturas. “Aqui há é malassadas. Acho que é parecido com o que vocês no Continente chamam de farturas”. Bom, venha de lá uma malassada. Parecido sim, mas diferente, mais maçudo e pesado. Ainda sobrou um bom bocado. Agora é que não era mesmo preciso jantar. 


Freira-do-bugio (Pterodroma deserta)

Recolhi pela última vez ao hotel, a pensar que ia ter saudades daquilo tudo. Três lifers de peso, três pelágicas inesquecíveis, um moleiro polémico e uma companhia cinco estrelas, sempre com “sangue nos olhos” como dizia outro guia Brasileiro. Obrigado Luís e Alexandre.  Ainda ali estava mas, no fundo, já não estava ali. O meu carpe diem deixa muito a desejar.

Deixo, por fim, um abraço ao Luís Rodrigues por me ter “obrigado” a ir nesta aventura e também pelas fotos que ajudam a ilustrar a crónica. O meu obrigado ao Alexandre Rica Cardoso pelas gravações do Pico do Areeiro. Não podia também deixar de agradecer à Catarina e ao Hugo - Madeira Windbirds - pela ajuda, paciência e excelente organização.

#canaldoxofred

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